No outro dia alguém que me é próximo argumentou, a propósito de um qualquer comentário meu, que a postura que eu ando a adoptar em relação a determinadas coisas não é tipica de mim.
Respondi que as pessoas mudam. Foi automático e aquilo saiu-me antes que eu tivesse tempo de refectir.
Quando cheguei a casa tirei uns momentos para pensar e concluiu que a resposta, não só foi intuitiva, como foi verdadeira. As pessoas mudam efectivamente e eu mudei. E bolas, como mudei.
Não mudei de gostos, mas mudei de postura. Não mudei a minha maneira de pensar, mas mudei a minha maneira de reagir. E as diferenças n dia-a-dia parecem subtis mas não são. Assumo-me como um todo desfragmentado em compartimentos em desenvolvimento e ao mesmo tempo sou a soma de todos os meus bocadinhos. Sou uma só feita de pedaços evolutivos. Serei unicamente previsível na certeza de que apresento completa na minha singularidade. Tudo o resto é constantemente novo e em permanente actualização.
Gosto de falar e discutir e debater e gosto do silêncio que preenche as palavras que não se dizem. Gosto de noites quentes bem regadas de conversa e gargalhadas e fins de tarde iluminados e quentes e gosto de dias de inverno solitários. Gosto de Tunas e de música e de arte e de sentir um arrepio no peito quando o mais belo nos toca os sentidos. Gosto de tocar e de sentir, de olhar e deitar a cabeça para trás no improviso dos dias. Gosto de planear e de saber para onde vou. Gosto de conduzir para longe, de dançar de braços abertos, de cantar em plenos pulmões e gosto da previsibilidade das rotinas. Gosto de agarrar o que me é querido e de sentir o que é real e gosto da adrenalina do desconhecido e de arriscar de cabeça sem pensar se existe rede ou não. Gosto de olhos molhados, de abraços seguros, de cabelo a cheirar a areia. Gosto de pescoços despidos e pés descalços e do verão a apurar os sentidos. Gosto de chorar tudo o que trago dentro do peito. Gosto de sensações fortes, do tudo e do nada, de viver intensamente e de acreditar que vivemos para sermos felizes.
E esta sou eu, um ser de contradições que se encaixam, assimétrica e única. Não caibo dentro de um perfil de postura, pois todos os dias estou em movimento. Por isso nada é atipico meu, mas apenas um novo lado que brota à superficíe.
E é assim que me mantenho original. Sendo-o.
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