quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Frágil

Há dias em que nos sentimos dormentes.
Como se a mente estivesse num estado de latência extremo, e o corpo também não acompanhasse o ritmo diário da vida. As horas passam, todas iguais, a tv balbucia umas quantas frases incompreensíveis, porque hoje o corpo e a mente estão de folga do mundo. E nesses dias a mente, talvez por estar adomecida, consegue ser mais clara que nos outros dias. Experimentar fazer exames nestes dias, pode ser que dê resultado.. Adiante!

Hoje é um desses dias. Passei o dia na cama, muito em parte por estar de gripe, mas também porque não me apetece mexer. Apetece-me ficar queita, não falar com ninguém, estar só, comigo.
Tenho muitos amigos e amigas, gosto muito da companhia, dos atrofios, das longas conversas, e daquelas que não se têm, mas gosto ainda mais de estar sozinha. Meditar. Reflectir. Pensar na vida, como se costuma dizer. E agora que entrei de férias (sim, as tão merecidas férias, para quem trabalhou que nem um cão durante o semestre...) acho que é boa ideia pôr os pontos nos i's. Só que acho que cheguei à conclusão de que tenho demasiados i's. I's que não gosto de ter, i's que pensava que já não existiam em mim, i's que apareceram de repente e aos quais ainda me estou a habituar. Saudade por exemplo.

Não sou uma pessoa saudosista, a vida ensinou-me a guardar com carinho, mas sem me prender em memórias. No entanto aqui, agora, na minha cama, só com a chuva a cair irritantemente às pinguinhas lá fora, vejo-me imersa em saudades. Mas não sei bem de quê. Os amigos diriam que é falta de mimos. Talvez seja.
Falta de um olhar, só para mim, uma gargalhada, um toque discreto, um piscar de olho, e não ter que partilhar isso com ninguém. Partilha. Não é uma coisa má, eu pessoalmente partilho tudo. Partilho a vida com pessoas que considero especiais. E é bom, sentimos o coração quentinho por cada pessoa a quem damos um bocadinho de nós. Um abraço, um raspanete, um sorriso, uma lágrima (ou muitas), uma tarde no sofá ou uma manhã na praia. Mas de vez em quando, também é bom termos algo só nosso.

Preciso de mimos e não os tenho. Ou não os tenho na quantidade certa. E agora penso, é egoismo ou vulnerabilidade? Poderá uma pessoa sentir-se frágil sem ser egoista? Pedir atenção é sinónimo de egocêntrismo? Quererei eu ser o centro da atenção do mundo? Podemos estar sozinhos no meio da multidão?

Preciso de chorar sem querer parar, daquela festa na cabeça, sem olhares que me julguem. Preciso de um sorriso que goste de mim e me diga que vai tudo correr bem.
És pessoa. Não, és memória, sensação ou pura dor, algo abstracto, mas que de uma maneira ou de outra me faz bem. És amor, és paixão, és desejo, és aquele sentimento que nos faz levantar de manhã. És as borboletas na barriga. Acho eu que és, pois não te conheço agora, és uma coisa estranha, no entanto há em ti uma sensação familiar. Mudaste, e eu mudei também. Para melhor. Sou mais forte agora. Mais mulher. Mais eu. E ainda me estou a habituar a esta minha mudança.
Preciso de ti sim, mas não te posso querer. Porque odeio borboletas. Limita-te a existir.
Sinto-me frágil.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não largues a droga que não é preciso...heheh ;)

* Manso

Anónimo disse...

Adoro a tua escrita Isabel! Se nao fosse ja fã nr1 da tua irmã acho que era tua :PP Bjs

Isabel Paixão disse...

Manso, no drugs, all me ;)
Pipoca, muito obrigada =)

Anónimo disse...

Sentir-se frágil é bom.

Dá-nos a coragem para continuar à procura. Dá-nos aquela certeza só nossa, de que algo está reservado apenas para nós, no recanto mais escondido do nosso futuro, à espreita com cara ingénua de uma criança que acabou de pregar uma pequena partida ao seu melhor amigo, prestes a aparecer e nos dar a sensação de felicidade espiritual plena. É aquele sentimento de completar os nossos defeitos e reconhecer as nossas capacidades, é aquele sentimento de sermos felizes por ser, é aquele sentimento que nos faz fortes por sermos um, aquele sentimento de não termos medo porque somos maiores que ele, é aquele sentimento de segurança que sentiríamos em bebés no colo da mãe com o pai ao lado, o sentimento de compreensão do mundo por o sentirmos todo dentro de nós...

é o "quentinho" que fica de cada lágrima chorada com amor.

sê frágil.

André Pinto.