segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Era uma vez uma escola melhor

Estava a ver um programa na RTP2 que se chama Sociedade Civil cujo debate hoje versava sobre as boas práticas no ensino secundário, de modo a que o balanço final deste ano que se inicia seja melhor que o que findou. A escola pública que se apresenta em primeiro lugar no ranking é o Instituto de Odivelas e três ou quatro lugares abaixo vem a Secundária José Gomes Ferreira, minha alma mater. A grande qualidade dos docentes, um ensino dinamico, uma Presidência do Conselho Executivo forte e virada para os alunos são os pontos chave para que a JGF continue a ser uma escola de excelência no panorâma nacional. Contudo, é minha opinião, e consenso generalizado no debate, que os incentivos e os programas de integração dos alunos na escola têm obrigatoriamente de começar no ensino básico. A organização, o método de estudo, a cativação dos alunos à escola têm de começar cedo. Tudo muito bem. Mas é imprescindível não esquecer também que é na escola básica que os alunos têm de começar a desenvolver o lado humano da sua formação. E é muito triste, quando perante tanta pedagogia e tanta conversa de mudança, vemos um projecto que nos fez crescer e que foi o responsável por eu ser o que sou hoje desaparecer da minha escola básica. Em 1996 andava eu no 5ºano iniciou-se um projecto chamado "Vamos Intervir" cuja função era dar voz aos alunos, conferir-lhes um espaço onde pudessem expressar as suas ideias, ajudar a construir uma escola melhor, onde fosse possivel crescer em harmonia e ao mesmo tempo, formar futuros cidadãos responsaveis, criticos, activos e conscientes. A vida aquela escola não eram só festas e cartinhas no dia dos namorados. Em 5 anos de envolvência no projecto, muitos sapos tive de engolir e muitas discussões tive de ter com inumeros pedagogicos sobre coisas em que eu e todos os que estavam comigo acreditavam e nos eram negadas, simplesmente porque eramos uns fedelhos que nem cerebro tinhamos para estudar, quanto mais para exigir, diziam eles. E quantas vezes provámos que estavam errados. São este tipo de projectos que nos fazem crescer, nos fazem sentir aquele sentimento de missão cumprida, de que afinal a escola é mesmo feita para os alunos e que não se esgota nos manuais, mas abrange toda uma área humana que nos encaminha para a vida real. A partir de este ano, 10 anos depois de várias escolas e universidades louvarem o projecto e pedirem testemunhos e relatos de experiências para estudo de "um caso de sucesso", os alunos da Escola Pedro de Santarém em Lisboa vão deixar de poder falar porque deixaram de ter quem os ouvisse. Quem queria ouvir cansou-se de remar contra a maré, que de à uns anos para cá tem atirado com ondas muito altas e muito fortes. Pode ser que algum dia se invente um ranking para avaliar a formação humana a par dos resultados dos exames e a maré se pergunte porque é que não consegue perceber os alunos. Eu posso lá ir dar uma ajudazinha e explicar porquê.

2 comentários:

JN disse...

"vamos intervir" ... bons velhos tempos ...

Força Sofia tamos contigo!

Anónimo disse...

Parabéns pelo discurso e pela vontad d lutar pelos teus ideais.
Continua...

Provavelmente deve ser por seres Sofia... está no sangue, não há nada a fazer.lol

Beijos Grandes,

Sofia