O que fazer quando se chega a um ponto em que não se consegue mais andar para a frente? Aquele ponto de não-retorno?
Quando tudo na nossa cabeça se amontoa, em locais onde não se deve amontoar nada, onde deveria estar tudo muito direitinho. Quando até respirar se torna uma tarefa árdua, e dormir o dia inteiro na nossa cama, onde nos sentimos bem e confortáveis, é uma tentação. E se vê as horas, os dias e os anos passar por nós sem nos tocar.
Quando se vai numa direcção que não se quer, a ser uma pessoa que não se gosta, e a pensar em coisas que não se deve. Quando se sente um bloqueio naquilo que que se quer um dia ser, uma montanha enorme para escalar e chegar aonde se quer ir. Quando se navega num deserto emocional há uns anos, a fugir ao carácter social da vida para nos perdermos em locais que são confortáveis, por medo, ou por conforto, ou porque nos esquecemos do que é arriscar sair da nossa concha e experimentar o mundo, com tudo o que ele tem para dar. Quando se dá tudo o que se tem a um ideal, a um objectivo, e não resta nada para nós. E para quem gosta de nós.
O que fazer? Como sair deste ciclo? Como fazer para nos mantermos fiéis ao compromisso que é assumido, sem nos perdermos no processo? Como é que se conjuga tudo? Como é que se é feliz, quando a vida nos é sugada por um ideal que, se calhar, é areia a mais para a nossa camioneta?
Os nossos pais pensam sempre que nós somos as pessoas mais dotadas do mundo. As mais inteligentes. Que vamos ser todos milionários e extremamente bem sucedidos no que quer que escolhamos fazer. Os nossos amores pensam que somos fantásticos, as melhores pessoas do mundo, e que tudo o que sai da nossa boca é digno do Nobel. Os nossos amigos pensam que trabalhamos imenso, coitados de nós, mas continua que um dia, vais ver, vais chegar ao fim. Então porque é que nós, quando nos olhamos ao espelho, nos sentimos estúpidos, idiotas, burros, inferiores? Como é que voltamos a estar em controlo de nós próprios? Como é que voltamos a ter a vida que nos (que nos é) sugada aos bocadinhos, como que por uma palhinha, deixando apenas um resto, um embrulho, daquilo que éramos antes? Como é que começamos de novo?
Onde é que deixámos de ter controlo? Como é que isso aconteceu? Quando é que a nossa auto-estima nos saiu das mãos? E por obra de quem?
Como corresponder a quem gosta de nós, se o que somos é apenas o que resta do que fomos um dia? Será que cá dentro ainda somos nós? E se nos encontrarmos, um dia, como fazemos para não nos perdermos de novo?
Não sei a resposta a nenhuma destas perguntas. Mas a minha resolução de ano novo, é descobri-las.
2 comentários:
Achei o texto muito interessante, porque já à uns anos para cá que me venho a colocar essas mesmas questões. E as respostas demoram a vir.
O que descreves é um processo de encontro conosco mesmos, o confrontar das ideias que fomos tendo ao longo da vida com o indivíduo e ideais que somos hoje. A partir daí, o passo mais importante é definir onde se quer ir. Começa por aí. :)
Revejo-me tanto nas tuas palavras, xuxu...
Força e um beijinho :)
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