Mais uma hora na cama. Por favor, mais uma hora na cama.
Porque se adormeceu há dois minutos, porque a cabeça lateja da ressaca da noite que se passou a chorar, porque a claridade do dia é insuportável para quem se sente às escuras. Só mais uma hora da cama.
A hora esticou demasiado, há que sair a correr. Manter o ritmo descompassado dos dias que se têm seguido uns atrás dos outros, numa amálgama amorfa sem cor.
Ao menos hoje vai sozinha no carro. A próxima hora é só dela, sem conversa de circunstância, em que finge prestar atenção a qualquer facto destinado a matar o silêncio da viagem. Pode ir calada, com ela própria, ou mesmo sem ninguém. Longe do corpo que doi e dos pensamentos que pesam, como se pudesse viver com mudanças automáticas, sem precisar de ter consciência de como se chegou até aqui e de como se vai para outro lado qualquer. A vontade é um elemento da condição humana permanentemente sobrevalorizado e este é o pensamento animador de quem vive na indecisão.
Desliga o rádio e arranca embalada pela cadência do para-brisas que afasta a chuva que teima em não parar de cair. O céu também chora com a angústia dos dias e das pessoas. Pudera, todos temos razões para chorar, escondidas no coração, marcadas no peito, debaixo das telhas que usamos para construir o telhado do nosso refúgio. Porque demora até se conseguir voltar a ver as estrelas sozinho, e enquanto isso não acontece o céu não pode estar à vista. E assim se fica quieto, a lamber as feridas, à espera do bom tempo quando se possa voltar ao mar. E a pouco e pouco vão-se rasgando janelas para ver a paisagem e deixar entrar o sol. É o tempo a fazer o seu trabalho, dizem, há um caminho a percorrer até chegar ao momento em que volta a conseguir contar as estrelas. Sabedoria de quem não sabe nada. A verdade é que, não interessa contá-las sem que possa segurá-las na palma da mão. Mas a malta constroi o telhado, a casca do ovo contra a tristeza e contra a saudade. As telhas são é de vidro mas que se lixe, é o material que temos.
O trânsito não incomoda, a marcha lenta não a faz procurar caminhos alternativos e mesmo nos troços livres da autoestrada, não se preocupa em passar dos 90. Os carros que passem por ela como os dias teimam em passar, sem olhar para trás, sem sequer notar com quem se cruza, quem se perde, quem se esquece. Não interessa se não está atenta ao caminho, há de ser em frente, há de se chegar a qualquer lado e quanto mais distraída, menos tem de pensar, decidir, agir. Desde que não se desvie da mão por onde vai e mantenha uma velocidade constante não há risco de acidente. Nem de mais nada.
Dias sem cor para estradas cinzentas. Há de se chegar ao fim da viagem, seja lá ele qual for.
Porque se adormeceu há dois minutos, porque a cabeça lateja da ressaca da noite que se passou a chorar, porque a claridade do dia é insuportável para quem se sente às escuras. Só mais uma hora da cama.
A hora esticou demasiado, há que sair a correr. Manter o ritmo descompassado dos dias que se têm seguido uns atrás dos outros, numa amálgama amorfa sem cor.
Ao menos hoje vai sozinha no carro. A próxima hora é só dela, sem conversa de circunstância, em que finge prestar atenção a qualquer facto destinado a matar o silêncio da viagem. Pode ir calada, com ela própria, ou mesmo sem ninguém. Longe do corpo que doi e dos pensamentos que pesam, como se pudesse viver com mudanças automáticas, sem precisar de ter consciência de como se chegou até aqui e de como se vai para outro lado qualquer. A vontade é um elemento da condição humana permanentemente sobrevalorizado e este é o pensamento animador de quem vive na indecisão.
Desliga o rádio e arranca embalada pela cadência do para-brisas que afasta a chuva que teima em não parar de cair. O céu também chora com a angústia dos dias e das pessoas. Pudera, todos temos razões para chorar, escondidas no coração, marcadas no peito, debaixo das telhas que usamos para construir o telhado do nosso refúgio. Porque demora até se conseguir voltar a ver as estrelas sozinho, e enquanto isso não acontece o céu não pode estar à vista. E assim se fica quieto, a lamber as feridas, à espera do bom tempo quando se possa voltar ao mar. E a pouco e pouco vão-se rasgando janelas para ver a paisagem e deixar entrar o sol. É o tempo a fazer o seu trabalho, dizem, há um caminho a percorrer até chegar ao momento em que volta a conseguir contar as estrelas. Sabedoria de quem não sabe nada. A verdade é que, não interessa contá-las sem que possa segurá-las na palma da mão. Mas a malta constroi o telhado, a casca do ovo contra a tristeza e contra a saudade. As telhas são é de vidro mas que se lixe, é o material que temos.
O trânsito não incomoda, a marcha lenta não a faz procurar caminhos alternativos e mesmo nos troços livres da autoestrada, não se preocupa em passar dos 90. Os carros que passem por ela como os dias teimam em passar, sem olhar para trás, sem sequer notar com quem se cruza, quem se perde, quem se esquece. Não interessa se não está atenta ao caminho, há de ser em frente, há de se chegar a qualquer lado e quanto mais distraída, menos tem de pensar, decidir, agir. Desde que não se desvie da mão por onde vai e mantenha uma velocidade constante não há risco de acidente. Nem de mais nada.
Dias sem cor para estradas cinzentas. Há de se chegar ao fim da viagem, seja lá ele qual for.
1 comentário:
ó meu amor... tanta tristeza descrita de forma tão pura... espero ver-te em breve, para um abraço e um beijo enorme... seguido de conversa e copos sim?? que ressacas só de coisas boas sim???
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