O início de ano lectivo foi marcado por um aviso enviado ao Conselho de Reitores pelo Sr.,Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o Dr. Mariano Gago, onde repudia "de forma veemente a prática das praxes académicas infligidas aos estudantes que ingressam no Ensino Superior..." e que "... dá conta da intenção de responsabilizar civil e criminalmente, por acção e por omissão, os órgãos próprios da instituição sempre que se demonstre a existência de práticas ofensivas para os estudantes."
Ora o Presidente do nosso IST, o Dr. Matos Ferreira, posto isto, decidiu "...proibir a prática de praxes académicas nos campi da Alameda e do Taguspark, qualquer que seja a forma como são organizadas." Ali, escarrapachado na página do IST e via mail para todos os alunos, funcionários e docentes. O escândalo! A faculdade conhecida pelo mítico Arraial do Caloiro e pela maior quantidade de testosterona por centímetro quadrado ia ser a única escola do país tomou medidas e baniu a praxe. E agora?
O Público pegou na história e fez um belo artigo, onde entrevistou o Presidente da Associação de Estudantes (AEIST), Jean Barroca, que interpreta ( e bem, a meu ver...) o aviso do Sr.Ministro de forma, como dizer, menos drástica. Diz o Jean que o Sr.Ministro "não fez a proibição da praxe, apenas o apelo para haver regulação e mais controlo". Opinião, acho eu, partilhada pela maioria dos estudantes não só do Técnico, como de todas as faculdades. Até aqui tudo mel.
O engraçado da coisa foram os 150 (na altura, não sei se estão mais agora) comentários ao artigo, de ex-alunos do ensino superior (não só do IST) e de alguns alunos (idem aspas) onde manifestam o seu aplauso e juras de amor à decisão do Sr.Ministro. Pérolas como "...as praxes das universidades é amaior burrice e perca de tempo logo no primeiro dia de aulas..", "...ainda bem que alguém se lembrou de acabar com essa tontaria que a maioria das vezes mais parace uma tortura...", "...as escolas e as universidades são espaços de estudo. Quem quer palhaçada vá para o Circo...", ou então, a minha preferida "...há muito que deviam de ter acabado com as selvajarias de meninos (as) armados em salvadores da Pátria Académica e com íntimos desejos de vingança...". Um mimo.
Ora meus amigos, vamos lá a falar do que se sabe. Falo lá está, pela minha Instituição. Os outros fazem o que melhor lhes convém. Mas aqui, fui praxada e praxei quem entrou nos anos seguintes, ao longo das minhas (ai, que dor...) 5 matrículas. E sempre segui a máxima do "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti". E posso garantir que hoje em dia, em pleno século XXI, no IST, as praxes são tudo menos violentas e abusivas. Salvadores da Pátria só se for um nome de código a dar às cábulas (perdão, auxiliares de memória) e desejos íntimos de vingança normalmente são canalizados para uma futebolada curso contra curso ou então de formas bem mais notórias, como a competição pela nota na pauta final. Afinal, "as escolas e as universidades são espaços de estudo", não é?
Expliquem-me onde é que um peddy-paper é abusivo? É constrangedor ir procurar a pista que está no piso 3 debaixo de um banco? Assinalar a casa de banho do pavilhão de Civil num papel é violento? É serviço público! É útil! Aposto que os senhores e as senhoras que tanto contestam esta tradição souberam sempre tudo, o que querem fazer, onde comprar folhas de exame, onde comer, onde ir fazer chichi! Se sim, os meus parabéns. Mas os comuns mortais precisam de indicações depois de caírem aqui de pára-quedas. De convívio. De socialização. De uma coisa muito interessante chamada Integração. E não, não é o cálculo de área debaixo de uma curva num plano ou superfície. É um outro tipo de Análise. Aquela mais Humana e menos Matemática, estão a ver? E daí, se calhar não...
Muita gritaria, muito riso e acima de tudo muito respeito. É para isso que existem as comissões de praxe, para garantir que tudo se faz com o maior respeito pelos alunos que tanto trabalharam para entrar ali. E é com orgulho que lhes abrimos as portas da nossa casa.
Integração e imaginação é a palavra chave quer na Análise III quer na praxe. Aulas leccionadas por alunos com toda a gente a rir, chapeus de cartolina com frases alusivas ao curso, alcunhas (como existem nas Tunas), desfiles, etc.
Posso dizer que hoje, para quem acha que não é verdade, está agendado o desfile pela Almirante Reis (posso juntar um mapa, se quiserem...) com alguns cursos. Aconselho a quem quiser tirar teimas e recalcamentos a aparecer, vai ver que muda de opinião.
Porque o problema nestes casos, foi simplesmente azar. Há pessoas mal formadas em todo o lado, porque é que no ensino superior haveria de ser excepção? E tenho a maior simpatia por pessoas que passaram maus momentos sob a alçada da praxe, porque não a viveram como ela deve ser vivida e daí só retiram más recordações. É um rito, um sinal, e é partilhado por todos, caloiros e veteranos. É uma alegria para nós ir espreitar quem entrou, perguntar se estão contentes, se têm dúvidas. Porque a praxe também é isto, e deve ser encarada com o maior respeito, por quem a manda executar e por quem a executa.
De praxes humilhantes e abusivas já todos ouvimos relatos. Mas o que interessa não é o passado, é o futuro. E os novos alunos devem exercer o seu direito à praxe, com a confiança de que as pessoas que estão ali à sua frente, vestidos de preto e com sorrisos marotos, têm consciência cívica e humana, e só querem que eles se divirtam. E na grande maioria, isso acontece.
Vamos controlar a praxe e quem praxa, vamos planear, vamos organizar. E vamos fazer com que a praxe seja inesquecível, não porque foi má e penosa mas porque foi uma semana do caraças.