quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pensamentos II

As pessoas têm tendência a, no auge da sua paixão, escrever ou dizer frases épicas, que acabam sempre com clichés tipo "para sempre", "até infinito", "até que a morte nos separe".
Depois a relação acaba e nós ficamos com essas palavrinhas a ressoar no nosso ouvido, ou a perseguir-nos no nosso telemóvel ou computador ou gaveta. Juras de amor para sempre, elogios grandiosos, patetices eternas. Faz parte da chama, bem sei, quem é que passou por uma relação sem nunca ter dito nenhuma destas coisas, ninguém! Mas o que fazer depois com isto, com estas mentiras que na altura eram verdades? Como digeri-las? Apagar, rasgar, para não as enfrentarmos mais e conseguirmos seguir em frente? Ou guardá-las num canto, nem que seja na nossa memória, para aceder a elas um dia mais tarde, mais à frente, e nos lembrarmos de que houve alguém que nos quis dessa maneira?
Sinceramente, não sei. Soa a um tempo distante, lá muito ao fundo, onde me lembro que o mundo tinha uma cor diferente. Lembro-me que gostava de lá estar, e que exactamente por isso me permitia a mim própria ouvir e dizer estas coisas. Porque fazia imenso sentido, porque só podia ter aquele rumo.
Disseram-me uma vez que não se devia fazer este tipo de planos, não se devia fazer pedidos de casamento lançados ao ar, nem juras de amor eterno só porque apetece no momento. Porque depois ficamos com elas nas mãos, quando tudo acaba. Acho que não concordo. Confesso que não sei o que fazer com as minhas, que disse e que ouvi, mas acho que só se pode ter uma relação desta maneira, dizendo estas coisas. Porque querer alguém assim, loucamente, é isso mesmo, não é?, é gritar ao mundo que se quer e se tem, é jurar eternamente que se está, é fazer o outro sentir que tudo vai ser assim, cor de rosa e brilhante. Se não for assim, passa-se ao lado da melhor coisa que uma relação tem: a loucura de se estar apaixonado.
Porque afinal, quem somos nós e o que é a vida sem um pouco de loucura? Não é ela que nos faz arriscar? Andar para a frente? Tentar? Se nos acomodarmos ao conforto da nossa existência, o que é que fica de nós? O que é que damos de nós aos outros? De que modo é que mostramos aos outros, ao nosso outro, o que sentimos? O que queremos? É gritando, é dançando no meio da rua, é fazendo figuras tristes, é criando surpresas inesperadas só porque sim, é basicamente sendo um pouco louco.
E se não pudermos ser loucos por vezes, nem quando estamos apaixonados, quando é que o vamos ser? E pior. Não será mesmo necessário ser louco, estar apaixonado, para se dizer que se viveu, mesmo?

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