Ontem recebi com tristeza a notícia de que uma amiga se encontra a sofrer.
E percebi que, por vezes, para nos sentirmos identificados, não precisamos de partilhar um grande pote de intimidade com o amigo em questão. Há sofrimentos transversais, cujas recordações nos arrepiam e fazem latejar aquela cicatriz antiga. Situações que uma pessoa vive e automaticamente nos incluem num grupo. Devia existir uma rede de apoio, género A.A. onde quem se vê deparado com situações semelhantes pudesse partilhar: "Olá, eu sou a Sofia e esta é a minha história".
E de repente viajamos com essa nossa amiga até àquela sala que conhecemos tão bem, escura e fria, atafulhada de fotografias pelo chão, retroprojectores a rodar filmes antigos a preto e branco, lenços de papel e pouca esperança. Tristeza e solidão. Muita solidão.
E damos graças ao tempo, que mais cedo ou mais tarde (na maior parte das vezes tarde), faz o seu papel e nos ajuda a abrir uma janela e depois a porta da saída.
De repente dei por mim a pensar que espero ter deixado a sala arrumada, limpa, bem guarnecida de almofadas e lenços. Vivi nessa sala durante alguns anos, mas saí. "Todos nós precisamos de um exemplo", disse-lhe eu ontem. Eu apresento-me como uma hipótese e este é o meu testemunho de esperança que não deixei pendurado na parede à saída. "É possível!"
Demora o tempo que for preciso. A sala está livre para ti, não se importa com o que dizes, com o que sentes, podes partir e sujar.
Mas quando saires, porque vais sair, arruma tudo. Para que a próxima colega do grupo que precisar, encontre este porto de abrigo da melhor maneira.