
Já me perguntaram qual o meu fascínio pelas
Tunas.
Mas que piada é que isso tem? Uma cambada de bebados vestidos de preto, a cheirar a cerveja, a agitar pandeiretas e violas pelo ar, a fazer uma barulheira infernal... yeah, que giro!
Ora meus amigos, é do conhecimento geral, pelo menos das pessoas, um beijinho para todos, que frequentam aqui este estaminé, que a yours truly aqui deste lado faz parte de uma Tuna, a TFIST. Por isso vos digo, minha gente, a Tuna é mais do que meia dúzia de arruaceiros que tresandam a copos e cantam a "Mulher Gorda" até as cordas vocais (ou as da viola) rebentarem. É tão mais do que isso.
A Tuna é um mundo. Um mundo de amigos. De direitos e deveres. De dedicação. É trabalhar por um todo, um todo maior do que nós. É ter orgulho num projecto, representá-lo num mundo diferente e ser reconhecido, por outros elementos desse mundo. Dizer "Sou da Tuna X!" e ouvir "Epá vocês são muita bons!", ou "Ouvi-vos tocar no sítio tal, mereceram mesmo o prémio X!", enche-nos o peito de coisas boas.
No entanto, não se trata apenas da componente musical e artística, o mais importante é a componente humana. Um elemento de uma Tuna é um ser melhor. É uma pessoa que conhece imensa gente, com quem tem de, obrigatoriamente, saber lidar. Porque as pessoas são sempre diferentes, os ambientes diferentes e as situações são diferentes. Um pouco como ser engenheiro, não é? Ok.. piada à Técnico, adiante.
Um Tuno (feminino ou masculino) é uma pessoa com uma grande capacidade de adaptação e encaixe. Alguém que que aprende a trabalhar bem em equipa, é disciplinado, cumpridor de uma hierarquia pesada e rígida. E é também alguém que se diverte, que aproveita o que faz, que tem facilidade em se dar a conhecer. Mas é duro! Senão vejamos. Em pleno semestre conciliar aulas, ensaios duas a três vezes por semana, treino pessoal fora deste horário para haver crescimento musical, festivais e actuações em fins de semana, que duram por vezes os dois dias inteiros. Dois dias com muita animação, mas com muito stress, com a preocupação de ensaiar vozes e instrumentos, garantir recursos humanos minimos para actuação, trabalhar a musicalidade, a originalidade, e toda a burocracia inerente quando se trata de um espectáculo.
Basicamente, é como um projecto que temos que entregar na faculdade. Temos que ter todo o trabalho estudado, mais o belo do sorriso da cara, apesar das muitas horas de sono perdidas, do cansaço acumulado, da garganta rouca e dos pés inchados dos sapatos e das horas em pé.
Parte boa: Vale tudo a pena, porque assim que as luzem acendem e que o público se manifesta, se as coisas correm bem, não há sentimento melhor.
E quando tudo acaba, fica o convívio, a discussão amigável sobre quem esteve em palco. Quem gostou, quem não gostou, quem não tem opinião. Os que cantam melhor, os que são mais animados, os que bebem mais.
É uma actividade extra-curricular saudável, fortalecerora de laços. Porque os amigos que ficam connosco quando acabarmos a faculdade são inevitavelmente (tirando meia dúzia que conseguimos manter ao longo dos anos, uns da faculdade outros já de trás, com com algum esforço não perdemos o contacto) os amigos da Tuna, pois as cadeiras vão ficando umas para trás umas para a frente, uns acabam outros ficam mais um ano, as pessoas deixam-se de ver.
Mas na Tuna, é até morrer. Cursos findados e há malta que ainda aparece, ainda canta, ainda toca, ainda corre o país (quando pode), e naqueles momentos é como se nada tivesse mudado. Ainda encontra os amigos do seu tempo, conhece quem chegou agora, ainda ri das mesmas piadas, ainda se sente em casa.
Confesso que me é por vezes difícil conciliar isto tudo, e quem me conhece ou é meu colega nestas lides Tunísticas sabe-o bem, não sou a pessoa mais assídua nem a mais entusiasta. A minha capacidade de gestão não é das melhores e conforme o curso vai avançando (mais devagar e pesadamente do que eu gostaria), mais difícil se torna. Não estou em todas, não vou sempre ao ensaio, não fico na discoteca até o sítio fechar. Sou fraquinha de saúde, preguiçosa, tenho imenso que fazer que já deveria ter feito, e uma prescrição para evitar. Há que, no entanto, arranjar um meio termo. E é isso que eu tento, apesar de por vezes não ser muito bem sucedida.
No entanto, e apesar de tudo, acredito que a faculdade é mais do que um edifício (ou vários) onde se tira um curso superior. É um lugar onde se faz formação em todos os aspectos da Vida. Seja a Matemática, a Física, a Gestão, seja o Código Civil ou o Francês; aprende-se a compreender, a respeitar, a trabalhar, a ter brio e orgulho, aprende-se a disciplina e a razão. E onde se conhecem as pessoas que mais tarde vão realmente importar. E é com este pensamento em mente que se entra na Tuna, e se aguenta o bom e o menos bom, o difícil e o acessível, as lágrimas e o riso.
Porque saímos da faculdade com um canudo numa mão, e um certificado como pessoa na outra.