sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Só para vocês, Mafalda Veiga


É dificil de explicar o efeito que a música desta cantora portuguesa tem na minha vida. Acho que tenho uma música para cada altura, cada obstáculo, cada alegria, cada tristeza desta minha, ainda curta, vida.
No dia dos meus 18anos, a minha mana ofereceu-me aquela que foi a melhor prenda que algum dia recebi, o CD ao vivo no Coliseu. Tem algumas das músicas mais importantes da minha existência, a chamada banda sonora da minha vida, se é que isso existe.
Já houve quem fosse capaz de entender esta minha obcessão, se lhe quiserem chamar assim, o estar às escuras a ouvir no repeat cerca de 40músicas, o associar pessoas a sons, a palavras, o rever-me em versos que não meus mas que podiam ser escritos só para mim, a citar algumas frases para exprimir o que sinto quando não arranjo palavras minhas. E até houve quem comigo partilhasse esta mania, momentos, de intimidade e de cumplicidade. Como ela diz, fomos cúmplices, até ao amanhecer.
Esta é a minha pequenina homenagem à minha cantora preferida, àquela que mais me toca. A única que me consegue pôr a chorar de tão bom que é ouvir, sussurrar, de olhos fechados, de peito aberto. Porque, de facto, fica tão fácil entregar a alma a quem nos traga um sopro do deserto.. não fica? E ela trás. Só para vocês, Mafalda Veiga.


(Cúmplices)


A noite vem às vezes tao perdida

E quase nada parece bater certo
Há qualquer coisa em nós inquieta e ferida
E tudo o que era fundo fica perto

Nem sempre o chão da alma é seguro

Nem sempre o tempo cura qualquer dor
E o sabor a fim do mar que vem do escuro
É tanta vezes o que resta, do calor

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

Trocamos as palvras mais escondidas
Que só a noite arranca sem doer
Seremos cumplices o resto da vida
Ou talvez só ate amanhecer

Fica tão facil entregar a alma

A quem nos traga um sopro do deserto
Olhar onde a distância nunca acalma
Esperando o que vier de peito aberto

Se eu fosse a tua pele
Se tu fosses o meu caminho
Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho

(Fim do dia (No Lado Quente da Saudade)

Esperei-te no fim de um dia cansado
À mesa do café de sempre
O fumo, o calor e o mesmo quadro
Na parede já azul poente
Alguém me sorri do balcao corrido
Alguém que me faz sentir
Que há lugares que são pequenos abrigos
Para onde podemos sempre fugir

Da tarde tão fria há gente que chega
E toma um café apressado
E há os que entram com o olhar perdido
À procura do futuro no avesso do passado

O tempo endurece qualquer armadura
E às vezes custa arrancar
Muralhas erguidas à volta do peito
Que não deixam partir nem deixam chegar

O escuro lá fora incendeia as estrelas
As janelas, os olhares, as ruas
Cá dentro o calor conforta os sentidos
Num pequeno reflexo da lua

Enquanto espero percorro os sinais
Do que fomos que ainda resiste
As marcas deixadas na alma e na pele
Do que foi feliz e do que foi triste

Sabe bem voltar-te a ver
Sabe bem quando estas ao meu lado
Quando o tempo me esvazia
Sabe bem o teu abraço fechado

E tudo o que me dás quando és
Guarida junto à tempestade
Os rumos para caminhar
No lado quente da saudade


(Ambas as músicas encontram-se no álbum Na Alma e Na Pele. Mais informações no site oficial da Mafalda Veiga)

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