quarta-feira, 26 de abril de 2006

Passado, presente e futuro.

Dói. Dói pensar. Dói sonhar. Dói lembrar. Sentimo-nos levados pela dormência dos sentidos, quando já nada significa o que significava antes. Há coisas que perderam o sentido. Um filme no cinema. Uma tarde de estudo. Um atrofio. Um lanche. Uma mensagem quando não se espera. Uma noite de Agosto. Momentos que não voltam, são únicos, e permanecem apenas agora na nossa memória. A memória. Traiçoeira. Prega-nos partidas à noite, levando-nos pelo caminho dos sonhos até ao lugar que o nosso coração anseia, iludindo-nos por umas horas de que tudo está como devia estar. Alvorada. Tudo desvanece. Acordamos e vemos os lençóis revoltos, a almofada no chão, o sol a entrar pela janela, o despertador a tocar. Ó dura realidade, foi apenas mais um sonho... Voltamos ao mundo real, onde o toque, o olhar, a voz, o cheiro, são apenas recordações de um passado. E todos sabemos que passado não se mistura com futuro. Futuro. Pensar no que a vida nos reserva. Vais ver, tens muitos anos à tua frente, aproveita, dizem eles. Mas o que é que há para aproveitar, se tudo o que eu queria ficou no passado? Que futuro posso eu ter enquanto a minha mente me prende no passado, os sentidos em recordações, o pensamento longe? Que futuro, quando só levantar da cama já é um passo olímpico? Que futuro, quando tudo o que eu imaginava como sendo um futuro já não o é? Estudar. Acabar o curso. O teu curso é a coisa mais importante que tu tens, dizem eles. Concordo. Mas como arranjar coragem para continuar? Como conseguir a concentração necessária para um bom desempenho se tudo o que se faz remete para.. Amor. O coração não escolhe quem ama. Não está nas nossas mãos escolher. Ama a quem te ama, não ames a quem te sorri, dizem eles. Tão fácil de dizer, meu Deus, tão fácil... E no entanto podia ser o enunciado de uma fórmula tirada da Física, tal é a dificuldade. A dicotomia extrema, de amar alguém que não nos ama, fazendo sofrer um outro. É injusto, pois é, mas a vida é injusta, dizem eles. Amizade e amor. Onde começa um e acaba o outro? Apaixonarmo-nos por um amigo, é possível? Acabar uma relação e ficarem amigos, é possível? Acabar uma amizade em prol de um amor, é possível? Amizade. Aquele sentimento de partilha da nossa vida, de acompanhamento, nos bons e maus momentos. Nós somos casados com os nossos amigos, eu acho. Para o bem ou para o mal, na saúde ou na doença, até que a morte nos separe. Isto é um verdadeiro amigo, existem poucos. Posso dizer que sou uma amiga verdadeira. Para os bons ou maus momentos. Para as relações que dão certo e para as que acabaram via telemóvel. Para os momentos de alegria do primeiro beijo até à choradeira no ombro quando ele(a) descobre que há outro(a). E agora dói. Dói reconhecer que as coisas acabam, que as amizades esfriam, que o passado não volta, nem o tempo, nem o cheiro, o toque ou a voz. Amor ou amizade, os dois ou só um, seja por que ordem for, dói muito quando acaba. E tenho medo. Medo de perder o amor, a amizade, o que raio é que isto seja, que me faz querer preservar e acarinhar por muitos e bons anos, que me faz querer estar a teu lado para o que der e vier, amigos, amores, chatices, alegrias. Porque contigo cresci e tu cresceste, fomos companheiros de muitas lutas, temos muita história, e isso é algo que não se esqueçe. Não tens lugar no meu passado. Porque és presente. Resta saber se te posso incluir no meu futuro.
Sem lamentos... A ti.

1 comentário:

JN disse...

Apenas tenho três coisas a dizer

- "Apaixonarmo-nos por um amigo, é possível? Acabar uma relação e ficarem amigos, é possível?" Perfeitamente, e acho que não é preciso muito esforço para voltarem a ser amigos, basta querer.
- "Eles" quem? Malditas entidades sem o B.I. ... Primeiro ouve-te a ti mesma e depois a essas entidades.
- É assim a vida, com os seus altos e baixos e mais qualquer coisa.

Bejito ***