O tempo não é nada mais nada menos que uma invenção. É o que eu acho. A velha história de que o tempo cura tudo é falsa, não cura coisa nenhuma, só faz com que a gente esconda no fundo de nós, bem tapadinho debaixo da tralha, o que nos faz doer. E assim podemos funcionar (que é bem diferente de viver) sem a constante memória do que dói. Mas basta um contacto pequeno, com algo relativo a esse problema, para toda a tralha ir ao ar e dar lugar ao desconforto.
Passaram 7 anos. 7. É imenso tempo. E no entanto, não é tempo nenhum. Bastou meia dúzia de frases internéticas para o desconforto chegar outra vez. E a raiva e a desilusão connosco próprios por estarmos a ser afectados novamente, por haver ainda desconforto, 7 anos depois. Mas ao fim ao cabo nada mudou em 7 anos, nós é que pensamos que sim.
Pensamos que as pessoas crescem, que amadurecem, que partem para aventuras pessoas e profissionais, em busca de serem felizes. E que um dia, no reencontro (se o houver), tudo vai ser melhor e bonito. Unicórnios e conffettis e arco-iris. Liar Liar, pants on fire. No reencontro, mesmo 7 anos depois, há desconforto e raiva e nervos e palmas das mãos suadas, e vontade de sair dali. Porque o nosso interluctor ainda acha que, para se valorizar a si próprio, tem que inferiorizar os outros. A nós. Mesmo numa conversa banal, sobre trivialidades, é sempre necessário mostrar que se está melhor, que é melhor, superior, que se é alguém. Quando no fundo no fundo, a única bitola pela qual ele se mede é a dele, o que faz com que a medição seja muito pouco imparcial. Para não dizer idiota, pois todos nós somos alguém.
Mas nós agora estamos maiores, já não temos 18 anos e um coração cheio de amor para dar. Temos 7 anos de conquistas e derrotas, mas também de algum amor próprio, que tentámos arranjar à força depois de termos sido derrotados e quebrados em mil pedaços, por alguém que não sabia o que fazer com o coração que de repente tinha nas mãos. Sinal de imaturidade? Na altura sim. Mas 7 anos depois, acho que não. É mesmo feitio.
Querer isolar-se do mundo, estar só, não ter apegos, é apenas um acto de protecção de si próprio. Achar que só se está bem sozinho porque não serve para ninguém é apenas mascarar o problema: ter medo de sair magoado. Pois eu tenho novidades: toda a gente sai com o coração despedaçado, mais cedo ou mais tarde. É para isso que ele lá está, é para isso que ele sente.
Este desconforto vai atormentar-me durante mais uns dias. Estou irritada comigo por me ter dado ao trabalho de sentir outra vez. Por saber que ainda me afecta, que ainda leio as entrelinhas, que ainda me importo, que ainda tenho a esperança de um dia poder ser cordial com alguém que em tempos foi tanto (foi tudo) para mim. Detesto ser mais uma vez a iludida. Mas antes ser assim que cobarde, e fugir.