Às vezes parece que a nossa vida, em comparação com outras, os nossos sonhos e ambições em comparação com outros, é curta, são pequenos. Nada do que queremos é verdadeiramente importante.
Em comparação com outros, não somos assim tão boas pessoas, tão grandes, tão admiráveis. Porque não damos tanto de nós, não dispomos do tempo, do afecto, da nossa vida, para ajudar os outros ou para servir um bem superior, maior que o nosso mundinho. Temos uma perspectiva redutora de tudo, preocupamo-nos com ninharias, com projectos egoístas, com sonhos de uma vivência ocidentalizada que gira à volta do capitalismo e do consumismo. Nunca vamos voar tão alto como aqueles que vivem dedicados aos outros, sendo felizes com o pouco que têm, sentindo o coração cheio com as dádivas que recebem sem pedir.
E nisto vem a depressão.
Não somos o suficiente, não fomos, nunca lá chegaremos. Somos pouco com tanto e ainda queremos mais.
Tive grandes deambulações desse género nos últimos tempos, agarradas a um projecto de vida que já foi mas que por vezes ainda espreita, a pessoas que admiro cada vez mais, de dia para dia e a uma solidão que em algumas noites se torna pesada e não me deixa dormir.
Mas como o relógio da vida não pára, chega sempre uma altura em que é necessário dar um passo em frente.
Porque não podemos ser assim tão maus.
O que queremos e sonhamos não pode ser assim tão desprezível, se até somos pessoas integras e com princípios, inteligentes e sensíveis. As escolhas que tomámos e que vamos seguindo ao longo da vida não podem ser assim reduzidas a nada, senão de que adianta escolher, se no fim de contas só um caminho é que é o certo, o louvável, o reconhecido?
Para isso é preciso descobrir que, primeiro que tudo, somos todos diferentes.
E que a diferença é boa. Iguais em espírito, em coração, em humildade, em humanidade. Mas diferentes pessoas, com diferentes ambições, diferentes projectos.
Diferentes sonhos.
A única coisa que é importante não perder é o sonho.
É preciso sonhar.
O meu sonho é ser feliz. Ser feliz na profissão que escolhi, na família que me deram, com amigos que apareceram e ficaram.
Estou grata por tudo o que tenho. Pela minha família por serem quem são e pelo esforço que fizeram em investir em mim, na minha educação, na minha formação como mulher, como cidadã, como cabeça pensante. Pelos meus amigos, com todos os seus defeitos e virtudes, que surgiram e ficaram porque acharam que valia a pena. Alguns sei que por mais anos que passem não vão sair. Foi a família que eu escolhi e eles escolheram-me a mim.
Estou grata pelo amor que dei e que me foi dado, pois quem nunca sentiu o coração a explodir nunca viveu de verdade. Não interessa o tempo que dura, mas a intensidade com que se aproveita e se vive o tempo que se tem. E tudo o que esteja abaixo de intenso é frágil e passageiro, não deixa rasto. A intensidade marca e, por mais que os laços se partam, porque no fundo tudo é breve, nada é eterno, molda-nos de forma que ficamos diferentes do que éramos no inicio. Somos mais e melhor. E devemos estar gratos por isso. Pelo que se viveu, pelo que se deu, pelo que se recebeu. Eu estou.
Estou grata por ter saúde e pelos meus também a terem. Grata pela oportunidade que tive de apreciar as coisas boas da vida. Dar boas gargalhadas, ler a alma nos olhos de alguém e oferecer a nossa de volta, ver um por do sol, entrar de cabeça no mar, viajar, dizer parvoíces em conjunto, arrepiar-me com aquela música e saltar e cantar em plenos pulmões com a outra, sentir que o mundo se resume a um abraço, ver uma lua cheia e baixa, chorar de alegria, dar beijinhos em quem se gosta e sentir que o coração está tão cheio que se consegue voar.
Sim, é verdade que somos diferentes. Que vou ter uma profissão capitalista com a qual hei-de comprar malas e sapatos. Mas é com ela que também vou aliviar a minha família, mimar os meus amigos e ajudar quem necessitar da minha ajuda. Estou grata por tudo o que tenho e por tudo o que já vivi. E sei que vou estar grata por mais ainda. E com isso o meu coração vai ficar tão cheio como o de qualquer outra pessoa que decidiu agarrar um sonho pelas asas e voar com ele.
O meu sonho é ser feliz. Cada um com o seu.
2 comentários:
porra pá... vem uma pessoa de férias e leva logo com estes pensamentos profundos....:-).. gostei... e sim, podemos mudar tudo e parar tudo mas nunca mas nunca menos podemos deixar de sonhar.... beijos
Que doce.. Que bom sentir-te assim. Como dizia o Pessoa "O que é preciso é ser-se natural e calmo".
Gostava de ter mais paz comigo mas sei que mais tarde ou mais cedo... ;)
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