A vida tem um problema impossível de resolver: passa por nós sem se dar por isso. Falo daquelas vidas normais sem grandes problemas, que não provocam dores de cabeça de maior intensidade a não ser em determinadas circunstâncias. Os anos passam devagarinho, sem grande impacto, os acontecimentos sucedem-se e tal como a escrita vai fluindo, a vida vai passando, sem moer, sem se fazer notar. Até que de repente nos apanha. Tudo o que antes era já foi, é novo. E é assustador. As expectativas que têm de nós mudaram, são mais altas, as responsabilidades batem à porta e a independência que nos parecia tão desejada antes, assemelha-se agora a um limbo no qual temos muito pouco equilíbrio – ainda não perdemos o medo de cair na rede. Dormir seria o caminho fácil. É igual a crescer, o tempo passa sem consciência. Mas viver não é isso. E está na altura de viver. Está na altura de acordar, de olhar em volta e de nos assumirmos como pessoas. Pensar pela própria cabeça não é combinar uma saída ao Bairro Alto sem dar cavaco a ninguém. É tomar atitudes em relação à vida - à própria vida - que realmente interessem e nos configurem como adultos responsáveis. Um curso, um trabalho, ou simplesmente uma diferente maneira de estar com os outros. Um pensar mais à frente, no futuro. Não temos de ser brilhantes, nem doutores. Não podemos é ser cinzentos, massa igual à massa, com meio neurónio a funcionar em automático dependente de outra pessoa. Há que marcar a diferença, encarar o passar dos anos como algo de positivo e traçar um rumo. Irrita-me até ao tutano pessoas excessivamente saudosistas, que agarram o passado como a única época em que foram realmente felizes, pois de agora em diante é inevitavelmente tudo a descer. Há que levantar a cabeça, aceitar os nossos defeitos e deficiências, encara-los como algo natural, mas acima de tudo procurar desenvolver as capacidades e as qualidades. Ingressar num curso superior não é uma sentença de morte, não é um rotulo para toda a vida. Mas é um rumo que ao se decidir aceitar, ao menos que se aceite como deve ser. Que se procure alternativas para atenuar as dificuldades e a desmotivação. Que se arranje um trabalho para obter a tão aclamada independência financeira, para ajudar nas despesas, para poder comprar um bilhete para um concerto, para ir para a neve, para poder estoirar num verão inesquecível, qualquer razão é boa. Ou não se arranje trabalho nenhum e o curso seja uma responsabilidade a tempo inteiro. O que é preciso é tomar a responsabilidade como uma coisa natural. Não é o papão, não dá vontade de chorar, não é razão para morrer, nem o inicio da depressão. Uma pessoa responsável não é uma pessoa sozinha, não é uma pessoa abandonada pelos amigos, nem pela família. Não é menos atraente, não é menos divertida e não significa que não possa nunca mais ter rasgos (leia-se de preferência inconsequentes) de irresponsabilidade. Não é nenhuma carga sobre-humana que se põe em cima dos ombros de alguém indefeso. É a idade, é o curso natural da vida. É sem dúvida em alguns aspectos uma chatice, mas é a realidade. Mas no fim, considerando tudo, até sabe bem. A tua vez já chegou á muito. Está na hora de parares de fugir. Vais ver que a única diferença grande que vais notar é o tamanho do cabelo. Hás-de continuar a mesma parva de sempre. Basta olhares para mim.
À minha irmã
À minha irmã
3 comentários:
FDX!!!!!!!!! QUE GANDA TEXTO!
Fantástico!
Encontro-me exactamente na mesma situação.
Para a Frente é que o Caminho crg! ;)
Abraço,
André.
Nem mais! **
Bah...
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